Como é o Cristianismo na china

 

O cristianismo na China tem uma história longa e complexa, marcada por desafios significativos e crescimento constante, apesar das restrições governamentais. A seguir, descreverei como o cristianismo se desenvolveu, como é praticado atualmente e os desafios que os cristãos enfrentam no país.

História do Cristianismo na China

Chegada Inicial

O cristianismo foi introduzido na China desde os primeiros séculos da era cristã. Missionários nestorianos chegaram ao país no século VII, durante a dinastia Tang, e o cristianismo foi brevemente aceito em algumas áreas, mas o movimento foi marginalizado e desapareceu ao longo do tempo.

Missionários Católicos e Protestantes

Nos séculos XVI e XVII, missionários católicos, como Matteo Ricci, começaram a chegar à China, buscando evangelizar a população. Ricci, em particular, foi bem-sucedido em estabelecer relações com a corte imperial, usando uma abordagem de adaptação cultural que respeitava os costumes chineses. Contudo, após um período de maior aceitação, o cristianismo passou a ser visto com desconfiança, especialmente quando o Papa e as missões católicas começaram a insistir na rejeição de algumas tradições culturais chinesas.

No século XIX, missionários protestantes, principalmente britânicos e americanos, começaram a se estabelecer na China, trazendo consigo escolas, hospitais e outras formas de ajuda social. Durante as dinastias Qing e Ming, a disseminação do cristianismo foi dificultada por movimentos antiocidentais, como a Rebelião Taiping (1850-1864), que teve uma ideologia cristã mista, mas que terminou em violência contra os missionários e outras minorias religiosas.

Século XX e o Crescimento nas Igrejas Protestantes

Durante o início do século XX, o cristianismo, tanto católico quanto protestante, continuou a se expandir, mas enfrentou grandes desafios. A Revolução Comunista em 1949 levou à tomada do poder pelos comunistas sob Mao Tsé-Tung, e o governo chinês começou a exercer controle rigoroso sobre todas as religiões, incluindo o cristianismo.

O Cristianismo na China Hoje

Igrejas Oficiais e Igrejas Domésticas

O cristianismo na China é dividido em duas principais categorias: igrejas registradas e igrejas domésticas.

  1. Igrejas Registradas: As igrejas protestantes e católicas na China podem operar legalmente se forem registradas com o Estado. No entanto, elas são supervisionadas pela Associação Patriótica de Igrejas Protestantes da China (APIPC) e pela Igreja Católica Patriótica Chinesa, que estão sob controle governamental. O governo exige que todas as atividades religiosas sejam supervisionadas e que líderes religiosos sejam leais ao Partido Comunista Chinês (PCC). Além disso, o ensino de qualquer coisa relacionada à fé cristã a menores de idade é proibido.

  2. Igrejas Domésticas: Estas são igrejas não registradas, ou igrejas clandestinas, que operam em segredo ou em casas privadas para evitar a vigilância e o controle do governo. Muitas igrejas domésticas são grandes e vibrantes, com milhões de membros em todo o país. No entanto, os cristãos que pertencem a essas igrejas enfrentam perseguições, arrestos e, em alguns casos, detenções. Apesar disso, as igrejas domésticas têm experimentado crescimento, especialmente nas áreas urbanas.

Crescimento do Cristianismo

O cristianismo na China tem crescido de maneira impressionante, especialmente nas últimas décadas. Estima-se que a China tenha mais de 100 milhões de cristãos, com muitas fontes indicando que o número de protestantes é maior do que o de católicos. A maioria dos cristãos chineses é protestante, com várias denominações, incluindo evangélicos, pentecostais e igrejas independentes.

O crescimento tem sido mais pronunciado entre os jovens urbanos e em algumas áreas rurais, onde as igrejas domésticas têm se multiplicado rapidamente. Embora o cristianismo esteja crescendo, o governo chinês continua a ser cauteloso e a adotar políticas de controle para evitar qualquer forma de movimento religioso que possa desafiar a autoridade do Partido Comunista.

Perseguição e Restrição

Apesar do crescimento, os cristãos na China enfrentam uma vigilância constante e restrições severas. O governo chinês, liderado por Xi Jinping, tem se tornado cada vez mais restritivo com relação às religiões, incluindo o cristianismo. Há relatos de igrejas sendo fechadas, líderes religiosos sendo presos ou forçados a assinar compromissos para se submeter ao controle estatal, e a retirada de símbolos religiosos das igrejas.

Além disso, a "reeducação" religiosa tem sido intensificada, com o governo promovendo uma forma de cristianismo que seja "compatível" com os valores do Partido Comunista. Igrejas são incentivadas a remover cruzes e outros símbolos religiosos visíveis e a adotar o patriotismo chinês. Há também campanhas de controle sobre a pregação e o ensino da Bíblia, especialmente no que diz respeito a questões sociais e políticas.

A Perseguição às Igrejas Domésticas

As igrejas domésticas, que não estão sob o controle do governo, enfrentam a perseguição mais intensa. Muitos pastores de igrejas domésticas foram presos, suas reuniões dispersadas e os membros foram ameaçados. Em algumas províncias, as autoridades realizaram campanhas para destruir as igrejas, incluindo a demolição de edifícios e a remoção de cruzes de igrejas registradas.

Relações com a Igreja Católica

As relações entre o governo chinês e a Igreja Católica têm sido tensas, especialmente devido à questão do Papa e da nomeação de bispos. Em 2018, a China e o Vaticano assinaram um acordo histórico que permite ao governo chinês ter uma influência maior na nomeação de bispos católicos no país, embora ainda haja tensão e desconfiança entre o governo e a Igreja Católica.

Desafios e Perspectivas Futuras

O cristianismo na China enfrenta grandes desafios, incluindo a repressão religiosa, a censura, o controle governamental e a vigilância constante. No entanto, a fé cristã continua a florescer, apesar da perseguição, e muitas igrejas domésticas e comunidades cristãs experimentam um crescimento significativo.

O futuro do cristianismo na China é incerto, com o Partido Comunista Chinês mantendo um controle rigoroso sobre as religiões. No entanto, muitos cristãos continuam a viver sua fé de maneira corajosa, muitos em segredo, enquanto outros mantêm suas igrejas abertas, sempre com a esperança de que o cristianismo continuará a crescer no país, mesmo sob pressão. A perseguição, embora severa, também tem fortalecido muitas igrejas, com um grande número de chineses continuando a abraçar a fé cristã.

Em suma, o cristianismo na China é uma combinação de crescimento e desafios, com a fé resistindo em um ambiente de forte controle estatal, mas também com uma vibrante presença religiosa, especialmente nas igrejas domésticas.

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